sábado, 1 de novembro de 2014

O morrer e o velar em Conceição dos Ouros - Parte 1

Bom, hoje mais uma vez trago um texto do historiador e pesquisador Eduardo Pereira. O assunto é o velar e sepultar dos mortos, e as práticas culturais que envolviam os ritos fúnebres em Conceição dos Ouros, o relato é baseado segundo o autor em conversas informais com moradores da cidade.
"A memória das pessoas mais velhas é surpreendente. Foram nas conversas de alpendre e janelas em Conceição dos Ouros, ouvindo os mais idosos que conheci muita coisa sobre o passado. As vésperas de finados, compartilho o que os idosos me contaram sobre as praticas relacionadas a preparação para a morte, velórios e sepultamentos em Ouros.
Havia uma vela mortuária que ficava a cabeceira do agonizante. Quando se aproximava a hora da agonia, alguém se encarregava de acender a vela e colocar nas mãos do moribundo, rezando a "Salve Rainha". A presença do padre era obrigatória para ministrar a "extrema unção".
Os mortos eram velados na cama ou nas mesas. Um lençol cobria o corpo,e era vez ou outra levantado a altura do rosto. Os pés eram algumas vezes amarrados para ficarem juntos. As mãos entrecruzadas traziam o terço, cuja cruz era tirada antes do sepultamento. Uma faixa era colocada na cabeça do morto, para manter a boca fechada. As mulheres se encarregavam de fazer a mortalha, e a roupa de luto para os membros da família- quase sempre os ricos usavam o preto e os pobres o roxo, cujo tecido era mais barato. Em um período mais remoto poucos usavam o caixão (que eram feitos pelos homens durante a noite), os mortos eram levados em uma espécie de rede. Durante um certo período houve um caixão comunitário que ficava guardado na Igreja matriz. Colocava-se o defunto no caixão, levava para as exéquias na igreja e posteriormente para o cemitério, onde o defunto era depositado na cova e o caixão levado de volta para a igreja.
As pessoas se reuniam para cantarem as "Incelencias"e outras rezas. De luto, os monótonos cantos se repetiam ( se não me falha a memória em numero de doze). Na hora do "Senhor Amado" as facas e canivetes eram lançados ao chão. Ao sair o caixão, alguém se encarregava de tirar o cisco, varrendo a casa e lançando fora a sujeira.
Se o falecido houvesse esquecido de cumprir uma promessa, voltava para pedir para que um familiar


o fizesse. Havia ainda a recomendação das almas, ato em que as pessoas, principalmente da zona rural, se reuniam e percorriam um determinado numero de casa, munidos de matraca e cruz. O canto inicial dizia:
" Acorda pecador adormecido, veja que o sono é irmão da morte e a cama é sepultura..."
Seguia-se outros cantos pedindo o descanso dos mortos, de acordo com a forma como as pessoas haviam morrido. No fim havia um lanche que variava de acordo com a situação econômica do dono da casa, podendo ser servido até café com farinha."

Para saber mais sobre a Encomendação das Almas clique aqui.

Para conhecer mais sobre as fotografias pós-morten clique aqui.

Boa leitura!
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